NJ761 Angola 47 anos
Quando atingimos a chamada meia-idade – no caso dos humanos, é cerca dos 50 anos – é suposto estarmos mais inteligentes, mais calmos, mais ponderados, mais desenvolvidos (intelectual, económica, financeira e humanitária), mais urbanos, mais personalizados.
Se isto é verdade para os humanos – e também o é para ouros animais – porque não para a “Casa-Mãe” dos que nela habitam e que, supostamente, porque ganharam a tal maior urbanidade, desenvolvimento e inteligência, pelo menos, dariam àquela uma melhor habitabilidade, torná-la-iam mais harmoniosa, mais aromática, mais acolhedora, mais simpática.
Pois é…, só que quase 50 anos após a Dipanda, mais concretamente 47 anos de independência, a nossa “Casa-Mãe” continua a pautar por falta condições consideradas mais do que mínimas para que os que nela habitam possam se sentir muito mais felizes.
A culpa é de quem? Como sempre, e nestes casos, a culpa ou morre solteira ou é sempre dos outros. Nunca foi, nunca é e nunca será dos “pais” que a gerem. Será sempre dos “filhos” e “outros familiares” que desaproveitam, sujam, abandalham, estragam, desmancham, inutilizam. Não se comportam como “gente”.
Pois é…, mas quando os “pais” não educam convenientemente, os “filhos” não poderão se comportar com urbanidade, desconhecem a consideração pelos outros.
Como queremos que os “filhos” se sintam bem na “Casa-Mãe” se algumas das suas entradas estão sujas, deterioradas, alguns corredores imundos, nauseabundos, as mesas sem comida e a que há, algumas, aparentam estar estragadas?
Pois é…, quem são os “pais” e quem são “os filhos”? Todos nós, sem excepção!
Dir-me-ão, e provavelmente com muita razão, que há muito não entro na “Casa-Mãe”. É verdade, infelizmente – se até a angolanidade há quem ma queira tirar… – há muito que não visito a nossa “Casa-Mãe”. Mas nunca deixei de estar presente, de a sentir, de a ver, de a abraçar, sem estar presente.
Há alguns “pais” que procuram melhorar algumas coisas. Mas o problema é que muitas coisas são só melhoradas por cima. A limpeza é superficial, pouco profunda. Os micro-organismos traiçoeiros ficam lá a descansar até voltarem à ribalta para mostrar que não bastou uma mangueirada e uma borrifadela de água florida.
Eles, mais dia, menos dia, voltam. Por vezes mais fortes e mais pérfidos.
Há que varrer bem, esfregar bem, lavar bem, arejar bem para que a “Casa-Mãe” seja aquela grande Casa que todos queremos.
Realmente todos queremos uma “Casa-Mãe” rica para todos sermos contemplados desta; tecnologicamente evoluída para todos apreciarmos a sua sonoridade; educada para todos melhor compreendermos os outros; cozinha bem industrializada e tecnimente científica e electrónica sempre eléctrica e onde a água jorra cristalina e pura e limpa para que todos possamos comer bem, em qualidade e em melhores condições sanitárias; quartos arejados e limpos para que não vejamos os nossos visitantes procurarem as “Casas” de alguns vizinhos que quase sem nada, tudo oferecem e com qualidade.
Pois é…, os “nossos pais” têm de aprender a viver com os “avós” – não poucas vezes desvenerados, excepto quando deles querem alguma coisa “bonita” para mostrar a terceiros –, com os “irmãos e tios” – tal como com os avós, por vezes só servem para mostrar aos “vizinhos e visitantes” que existem e pouco mais – e com os “filhos”, com os “enteados”, com os “primos” – estes, todos nós, não servimos só para sermos acarinhados nos dias de “lustros” e depois nos deixam de mãos a abanar em” quartos” onde nem nos deixam administrar, para mostrar que também somos bons…
Não! Pode ser utopia, mas queremos que quando a nossa “Casa-Mãe” fizer 50 anos possa dizer, e com toda a propriedade, demorámos, mas estamos a caminhar, em definitivo, para o bom caminho. A “nossa família” está melhor, tem melhores “quartos” – porque são eles que a gerem –, definitivamente melhores condições sanitárias, melhores tecnologias, melhores aparelhos industriais, e muito melhor comida e água.
Não é um sonho. É uma realidade que todos queremos ver cumprida. É altura de reflectirmos…
Bem-aventurado 11 de Novembro. Feliz Dipanda!

Publicado no semanário Novo Jornal, ed. 761, de 10.Nov.2022
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