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Em pouco mais de 48 horas, o presidente da França, senhor Emmanuel Macron, visitou 4 países da África Central: Gabão, Angola, República do Congo e República Democrática do Congo (RDC).
Esta visita foi uma tentativa de Macron iniciar um novo relacionamento com o Continente Africano, tendo por base a nova política estratégica francesa para as relações com África, apresentadas em Novembro de 2022 e reafirmadas poucos dias antes desta viagem, a 27 de Fevereiro, pp. e que se consubstancia em relações mais responsáveis e equilibradas com os países Africanos.
De facto, o Macron tentou mostrar, contrariando o que se vem ajuizando no Continente e no seu próprio pais, que a França está activa e pujante nas suas relações com África, e que procura se reafirmar no Continente face às continuas e naturais investidas das grandes potências (EUA, Rússia e China) e, agora dos novos players internacionais, como são os casos da Índia, Turquia e EAU (principalmente deste dois últimos, que emergem como grandes fornecedores de material bélico, em particular no Gana, Nigéria e RDC – drones –, ou com Angola – navios de guerra, num acordo de mil milhões de euros para o fornecimento de corvetas BR71 MK II; mas não esquecendo que a França também se apresenta, e sempre, como uma potencial candidata a fornecimento de material militar).
Uma visita onde Macron tentou mostrar mostrou que a nova estratégia da França para África, é para levar a sério. Aliado – e é bom não o esquecermos, – ao facto de a França ir, em breve, a eleições e Macron estar com uma popularidade muito baixa (a questão das reformas dos franceses – uma das mais baixas, se não mesmo a mais baixa da Europa – de aumentar de 62 para 64 anos, tem sido a que mais impacto, ultimamente, está a ter). Uma vitória diplomática, pode ser – em regra, é quase sempre – um passo importante para a uma boa recandidatura.
A nova estratégia procura deixar para trás ou deseja fazer esquecer a ancestral política da Francafrique (a do domínio reservado e que foi recordado e reafirmado pelo Macron, há cerca de 5 anos, na Universidade de Ouagadougou, Burkina Faso) e avançar para uma nova política de parcerias e investimentos estratégicos com África.
Os recentes Golpes de Estado, na África Ocidental (Mali – que levou ao fim da operação militar franco-maliana Barkhame –, Burquina Faso e Guiné) aliados às sucessivas críticas da presença de militares e bases militares franceses no Continente (Côte d’ Ivoire, por exemplo) foram – têm sido – alguns dos leitmotiv para esta nova política.
Acresce que o Eliseu definiu que a França carece de novos players em África, a que denominaria e Pays Partenaires Africains – ou, usando a mesma terminologia adoptada pelos EUA na sua US Africom, de uns News African Nations Partners – em que Senegal, Nigéria, Quénia e, agora, Angola se assomem como os vértices destes “novos parceiros estratégicos” para as e nas novas parcerias.
Parcerias que Paris considera, repito, terem de ser baseadas em relações “responsáveis e equilibradas”, nomeadamente em áreas como o ambiente, agricultura (celebradas no Gabão) e saúde e em investimentos estratégicos que os países africanos considerem necessários e a França tenha capacidade para os concretizar.
Dois factos – diria, os dois mais importantes factos – destacam desta visita:
      i) Em Angola, a assinatura de vários acordos comerciais – não esquecer que no período económico entre 2020 e 2022, as relações comerciais entre Angola e França ascenderam a cerca de 3,7 mil milhões de €uros – e empresariais, com especial relevo para a assinatura do acordo que Luanda celebrou com a Airbus para a construção do novo satélite, este de observação terrestre (o Angeo-1);
     ii) e para as conversas com o presidente Tshisekedi- ainda que, por vezes, pouco cordiais – e, sobre a situação na RDC, em particular no Leste do país, com os ataques do M23 e ao propalado – já confirmada pela ONU – apoio do Ruanda a estas milícias para o que Macron optou por nada se referir ou criticar o apoio de Kigali – não esquecer que várias empresas francesas operam no Rwanda, entre elas a Elf-TotalEnergie que é, igualmente, protegida pelas forças ruandesas em Moçambique. No entanto, Macron não deixou de considerar, diplomaticamente, que a situação político-militar no Leste da RDC tinha de ser revertida para o melhor equilíbrio pacífico do Continente e na área.
Mas como por vezes, muitas vezes, a diplomacia faz-se em corredores e em lugares incomuns e discretos, o certo é que pouco mais de 24 horas após a visita, Luanda afirmou que o M23 aceitou um cessar-fogo na RDC – por quanto tempo, veremos mais adiante no tempo… –. Talvez um gesto simpático de Kagame para Macron por este ter optado pelo silêncio às críticas de Kinshasa a Kigali (mas não se calou, visivelmente incomodado, quando Tshisekedi reafirmou que a França teve impacto directo no genocídio burundi-ruandês)
A discrição é a melhor conselheira da diplomacia e os bons resultados desta, não poucas vezes, reflectem-se nos actos eleitorais. Principalmente se os habituais parceiros estão de costas voltadas para a habitual potência “protectora” e se as críticas a Paris são contínuas, em particular, junto dos referidos países onde acorreram os Golpes de Estado que, não esqueçamos, foram e são assessorados por agentes do grupo para-militar russo Grupo Wagnera, ou grupo Wagner (como é habitualmente reconhecido).
De qualquer forma este ciclo-cross de Macron, parece ter sido o princípio de uma nova era das relações franco-africanas. E os 4 países centro-africanos, Gabão, Angola, Congo e RDC, foram o primeiro passo.
Veremos quais serão os próximos. Talvez uma vista ao Senegal para reafirmar a inconveniência de Macky Sall procurar soluções que lhe permitam ir a um terceiro mandato, torneando os condicionantes jurídico-constitucionais – algo que parece, nos últimos tempos, muito em voga em certos sectores políticos do Continente …
NOTA: este texto foi escrito pouco após esta visita de Macron e, por esse motivo, factos que tenham ocorrido e que possam levar a outras interpretações e, ou, análises posteriores, serão naturais.
Publicado no Novo Jornal, edição 777, de 17.Mar.2023, página 11
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