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Os africanos estão a comemorar mais um dia do seu Continente. Como habitualmente, estamos a fazê-lo conscientes das maiores das alegrias devido ao seu exponencial desenvolvimento e bem-estar social, assente numa paz duradoira e num sistema político límpido e anti-corruptivo.
Ok!… Ok!…. Prontos!… já estou acordado; já parei de sonhar, não precisam de abanar mais…

De facto, antes não fosse necessário perceber que estava a sonhar. Seria um assinalável sinal que África caminhava para a sua auto-suficiência política, económica e social. Infelizmente, ainda nada disto acontece. Bem pelo contrário, como se pode verificar.
A corrupção continua latente; usando uma terminologia tão corrente, diria que é uma pandemia endémica;
O – não o encapemos – sub-desenvolvimento que persiste gritante na maior parte dos países; alguns, e não poucos, com riquezas de fazerem corar certos países Ocidentais, nomeadamente, os da União Europeia a quem continuamos a mostrar alguma – muita – subserviência político-económica;
O momento sócio-político, continua assente em contínuos e ciclos movimentos de desordem política, militar com importantes impactos na visa social e económica de todos nós;
A crise da migração legal e irregular, interna e, principalmente, a que tenta sair para fora (passe a redundância) do espaço continental, não para de crescer: são guerras-fratricidas, são alterações políticas, a maioria não-constitucionais ou palacianas, é a falta de condições financeiras e económicas dos nossos concidadãos africanos, é o gritante desprezo que alguns líderes políticos parecem ter para a deficiente condição sanitária dos seus Povos;
A actual crise político-militar na Europa – e com impacto internacional – entre a Rússia e a Ucrânia, mostra-nos que a divisão política é efectiva. uns apoiam aberta ou disfarçadamente a Rússia, outros discretamente, mostram-se contra, mas não o fazem abertamente, até porque alguns são clientes preferenciais de material militar russo; e há 2 ou 3 que são claramente contra a Rússia. Mas no fim, exceptuando os países onde ocorreram Golpes de Estado (Coup d’État), é vê-los, todos, repito, todos, a manterem a mão estendida à União Europeia e ao sempre bem-vindo capital Ocidental – que se lixe as novas moedas…
Resumindo, apesar de tanto e constante alarido de afirmação da Unidade Africana, tão sábia e salutarmente decidida na criação da União Africana, continuam de ser os países Ocidentais e da União Europeia a subvencionarem muitos desses Estados africanos com donativos e subvenções financeiras que, caso não continuasse a imperar a corrupção, a delapidação do bem público e a “endémica” má-gestão política, não seriam necessários.
E que fazem os nossos Povos?
Continuam, desde 1963, a festejar o mês de Maio agarrados a ideias decrépitas e já sem qualquer conteúdo, fazendo comezainas, discursos políticos ocos, dançando em festivais, reclamando por tudo e do nada.
Reiteram no fortalecimento da União Africana, apresentando e defendendo novos ideais políticos, sociais e económicos assentes em “coisa nenhuma”.
Mas o que vemos?
Crises militares sucessivas – RDC e, agora, Sudão, continuam a ser os casos mais gritantes –; Golpes de Estado quase em catadupa, em particular no Sahel francófono; insurreições de origem religiosa – Moçambique, Nigéria, Burkina Faso, só para citar alguns, são exemplos –; a corrupção activa e continuada, de que são casos sérios, países onde o “ouro negro” é rei, mas, também, em outros – usemos como exemplos, Guiné-Equatorial, Nigéria, Zimbabwe, RDC, E-Swatini e, ou, Lesotho; crises sociais e políticos sem fim à vista: África do Sul (considerado o país onde mais crimes são perpetrados per capita), Zimbabwe, RDC, Nigéria, Sudão, Etiópia e Eritreia, Somália e Libéria, etc, etc, etc…
E, depois, há as doenças endémicas que persistem sempre reaparecer em força, como o HIV-Sida, o Paludismo/Malária, ou as tenebrosas febres hemorrágicas, como a Ébola, a Marburg, a Febre de Lassa, a Varíola dos macacos, entre outras simpáticas e altamente infecciosas doenças…
Enfim. Haverá ainda motivos para continuarmos alegremente celebrarmos África nestas condições? Penso que não.
Tal como escrevi há uns largos anos e que continuo achar estar actual, é, ou melhor, continua a ser altura do Sistema Internacional deixar de olhar África como os coitadinhos e começar a adoptar a máxima chinesa “não dar, mas ensinar obter/criar”; de nós, Africanos, sermos pragmáticos, quanto baste, para que vejamos um real desenvolvimento no nosso Continente.
É altura, continua a ser altura, de estarmos fartos de subvenções e exigir igualdades nos tratamentos e nas condições de relacionamento entre Estados. Como é, e continua a ser pertinente saber exigir que as matérias-primas passem, também, a serem transformadas entre nós e possamos desenvolver a qualificação profissional dos nossos trabalhadores.
África deve ser, e tem capacidade para isso, temos de ser um Continente próspero e grandioso. Devemos procurar formas e meios para estancar a grave sangria intelectual e profissional que o Continente continua a sofrer.
Ora, porque não começar – penso que já outros o terão escrito, mas não é demais sublinhá-lo, por reciclar os nossos políticos e governantes.
Apesar de tudo, e porque não e apesar de, em consciência sabermos que não o é, saudemos a ansiada Unidade Africana. A esperança é sempre a última a morrer; assim afiança o adágio…

Publicado no semanário Novo Jornal, na edição 788, de 26.Maio.2023, pág. 35
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