Eugénio Costa Almeida

NJ 796 Uma crónica futurista de um impichemante

Algures num tempo futuro, quando, daqui a 10 mil anos, um novo continente surgir entre da divisão do mais belo e rico continente terreste, um grupo de animais – porque voltamos às fábulas “La Fontaineanas” – pertencente a um dos novos países emergentes, decidiu euquerer junto da sua Assembleia-geral um pedido de “impichemante” sobre o kota real.


Naturalmente que a personagem máxima da Assembleia, perante tão inusitada solicitação, perguntou à sua personagem Vice que raio era aquela postulação e o que era um tal de “impichemante” (demissão).
Um pormenor, de não menor importância. Nesse país emergente existia algo que foi descoberto há milhares de anos pelos antigos povos líbios – como afirmava um seu antigo líder que a História, por ele inventada, denominou de “Príncipe dos Príncipes Africanos”, de nome Kadhaffi – ou pelos antiquíssimos povos Helenos – como os antigos Gregos e os não menos antigos filósofos políticos consideravam ser os verdadeiros fundadores – uma norma filosófica denominada de Democracia.
Segundo essa antiquíssima norma, que os futuríssimos povos iriam volta a adoptar depois de umas quantas lutas fratricidas e após um Paz interna, os Povos passariam a governar, a deter o Poder, já que Democracia vinha de uma expressão helénica “Demokratia” que significava «O Governo do Povo» ou, mais usualmente, à época, «O Povo no Poder» - Demos era o Povo e Kratos (kratia) era o Poder – , já que o Povo colocava no Poder pessoas que o Povo elegia para o representar, através de uma papeis onde estavam os nomes de quem seriam os seus representantes; chamavam a esses papei de “voto” e aos representantes, de deputados e de líderes governamentais: um kota real, por exemplo…
É certo que essa filosofia – a tal de Democracia – durou centenas de anos, talvez milhares, mas nunca foi bem entendida pelos tais representantes e, principalmente, pelos tais governantes. Havia sempre quem, depois de sentar o mataco (a parte baixa carnuda das costas) na cadeira que representava o Poder, a tal governação, achava que tudo poderia fazer – e sem dar satisfação ao Povo – e, alguns, até se perpectuarem na cadeira até vir um novo grupo, por vezes “importado”, para fazer cair – derrubar – o kota ou o secúlo que se queria ficar eternamente na cadeira.
Os tais “importados” apareciam com “kitandas” (alguidares, tabuleiros) cheias de coisas que cuspiam fogo, e paleio bonito, ajudavam os grupos locais que queriam, diziam eles, muitas vezes, devolver rapidamente o Poder ao Povo – o que, na maioria das vezes e dos casos, eram tangas (“makutu mâ” – mentiras deles) – e, não poucas vezes, os grupos e os “importados” levavam a um “makufua ma atu” (morte do Povo) e este ficava sempre na espera.
Mas havia outros que, como começámos a crónica, que na tal Assembleia-geral – onde, refira-se, estavam os tais representantes do Povo, dito de “deputados” – exigiam do Kota real respeito, governação e respostas ao Povo (os tais deputados).
Uns respeitavam as regras e, periodicamente, presentavam-se aos deputados e falavam, falavam, do que tinham feito e não feito; outros com caras de “bons rapazes”, e de tempos em muitos tempos e só para fazerem “banga” – faziam de conta que o apresentavam os seus relatórios (até porque os seus doutos jurídicos, afirmavam que não havia nada que os obrigasse, mas era bonito fazerem-no) e mostravam, também, essa boa-vontade, convocando eleições, mas sabendo que seriam sempre, de uma maneira ou outra, os eleitos; e, finalmente, havia aqueles que, algum tempo depois do mataco ficar colado na cadeira, nunca mais ligavam à Assembleia-geral, nem queriam sair.
Os “eternizados”, ocorria, não poucas vezes, que acabavam por cair com a força dos que usavam o Poder do fogo; os tais que fazia de conta que falavam, mas não falavam e tinham sempre o ganho eleitoral no “imo” “ombuto” (na barriga, na pança) mostravam, muitas vezes, pouca simpatia pelo que o Povo sentia ou dizia sentir.
E quando isso acontecia, lá vinha, alguém, um grupo, na Assembleia Nacional – ah! fui descobrir agora que, na época, a Assembleia-geral, se chamava de Assembleia Nacional ou Parlamento e fiquei a gostar de Assembleia Nacional –, por exemplo, criticar, exigia a presença do Kota real, do Secúlo, mandava bué “oku vangula lolukandi” (falar com voz alta) e bué “mabukubuku” (muita zanga).
E quando não eram ouvidos, os deputados do grupo crítico, usavam uma expressão interessante, um “voto de censura” ao Poder (à Governação), mesmo sabendo que o grupo que, eternamente, apoiava a Governação tinha sempre mais deputados que o grupo contestatário. E quando não conseguiam fazer cair o Governo com o tal de “voto de censura” usavam outro artifício e, desta vez, contra o líder da Governação – que podia ser um Rei, um Imperador, um Presidente – usavam a figura do “impichemante”.
Ora, voltando ao início, um tal grupo dos animais do país emergente que estão na – vou chamar assim, porque gosto – Assembleia Nacional (AN) e que se são conhecidos por “Pange” (irmãos) disse que ia apresentar um pedido de impichemante contra o Kota real que, também, ele, é líder da Governação.
Em face de tão inusitada, repito, solicitação, a personagem que lidera da tal AN do reino dos animais, denominado Reino de Makuta, foi ler o regulamento da AN sobre o que poderia fazer e se era legal.
E no Regulamento, denominado, Magna Carta – tal como na antiguidade do antigamente – dizia lá que um Kota real, e segundo o ponto 129º, pode ser alvo de impichemante desde, entre outros itens complementares, que aconteça algum destes casos:
a) por crime de traição à Pátria e espionagem; b) por crimes de suborno, peculato e corrupção; c) por incapacidade física e mental definitiva para continuar a exercer o cargo; d) por ser titular de alguma nacionalidade adquirida; e) por crimes hediondos e violentos tal como definidos no presente Regulamento; ou, ainda, se o líder real atentar contra a) o Estado Democrático e de Direito; b) a segurança do Estado; e, c) o regular funcionamento das instituições.
Há ainda quem especule que o líder real, sendo eleito pelo Povo como deputado, deve, primeiro, tomar posse como deputado e, só depois e pedindo suspensão como deputado, ser nomeado e eleito “líder real” deixando o seu cargo de deputado a um suplente. Não o fazendo, ou tendo feiro, deve ser considerado ilegal no cargo. Até hoje, nunca ninguém se lembrou de fazer “maka” (fala grave, barulho, bronca) nem “maka ma iba” (fala feia) sobre isto…
O certo é que o grupo do partido do Kota real, conhecido pelo “Makota” ou “Maioritário” não gostou da tal iniciativa e afirmou que os Pange queriam era desestabilizar, de serem irresponsáveis e de querer ascenderem ao poder sem legitimidade e que os seus deputados tudo farão para impedir que o pedido dos Pange siga em frente.
Até agora o grupo crítico só ameaçou; ainda não pôs o pedido de impichemante nas mãos da personagem-líder da AN. Deve estar a contar com quem pode contar, porque os Pange têm menos pessoas, deputados, que o Makota. Mas…
Mas, parece que o tal de Regulamento diz, e isto pare surpreendente como deixaram ficar uma maka destas, os deputados têm de votar de “voto secreto” ou seja, não podem votar de “papel no ar”, mas de “papel na caixa fechada” que não parece ser do agrado do BP e do CCP do Makota!...
Vamos esperar que esta crónica futurista do reino emergente siga nos próximos passos, faça o seu kwenda (caminhar).
Eu acho que a personagem-líder da AN do Reino vai no esquecer do tal pedido de impichemante e o líder do Pange vai continuar a falar bué alto, mas sem fazer maka demais.
É, citando de cabeça o que um antigo líder do Reino, mas não líder real terá afirmado aos jornais do Reino, este pedido de impichemante foi «um sacudir a sociedade nacional e internacional, no sentido de alertar que o que se passa no Reino de Makuta é muito grave»; além de que, parece, nada irá mudar, porque tudo irá mudar com a semente lançada,…

Publicado no Novo Jornal, edição de 28.Jul.2023 e colocada online aqui em 29.Jul.2023 
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