Eugénio Costa Almeida
NJ 807 2023Out13 Que Estado da Nacao
Na próxima semana, mais concretamente, no próximo dia 16 de Outubro do ano da graça do senhor de 2023, d.C., vai ocorrer a inauguração de mais uma nova Legislatura. Com esta irá, naturalmente, ocorrer mais uma maravilhosa palestra presidencial, dita de Estado da Nação. Algo importado dos States, onde o presidente norte-americano informa os seus concidadãos sobre o que fez ou poderia ter sido feito, que não aconteceu por razões que ultrapassam – sempre – a governação presidencial, mas, e sobretudo, informa o que, de facto e com maior relevância, prevê fazer no ano seguinte.
Isto é possível porque o Presidente dos EUA é, realmente, Presidente de todos os norte-americanos e não, em simultâneo, presidente de um partido ou coligação, com bónus” aos seus correligionários.
Ora, sabemos que no nosso quadrado, o Presidente pode ter vontade de ser Presidente de todos os Angolanos e trabalhar nesse sentido. Mas… só que com um Presidente não eleito directa e universalmente e manter a presidência do seu partido, a credibilidade que pode recolher no início do mandato, depressa desbasta e o crédito esmorece ou densifica.
Nestes casos a habitual prelecção do Estado da Nação acaba por ser mais uma amálgama de folhas A4 sobre o que foi feito, no que, em regra, é uma sequência e a actualização dos anteriores “powerpoints”, nunca mostrados e facilmente esquecidos e as amostras do que [pouco] foi feito, aplaudidas de pé…
Mas atenção, o trabalho [novo] não feito, por vezes, e não poucas vezes, se deve ao justilho dos estatutos do seu partido que condicionam a governação e a incapacidade da AN em controlar, de facto, o Governo. E isto acontece com o Presidente João Lourenço, como acontecerá sempre com outros presidenciáveis doutros partidos, enquanto a CRA não for alterada.
E era este, entre outros temas que gostaríamos de ver falado no Estado da Nação. Não o que [não] foi conseguido, mas o que queremos ver trabalhado:
1. Alteração geral da CRA; não parcial, mas global, onde o Presidente passaria a ser eleito por voto directo e universal;
2. As eleições autárquicas nacionais e globais para 2024 (e os governadores passavam a ser eleitos pelos eleitores provinciais, acabando-se governadores-secretários partidários locais);
3. Mudança efectiva da economia; se estamos a descarbonizar as nossas fontes energéticas, então devemos nos preocupar menos com a produção petrolífera e diversificar mais as nossas fontes económicas; sabemos que essa era uma das vontades do Presidente, ainda vai a tempo;
4. Ainda que seja útil à Nação e a África a capacidade conciliadora do Presidente nas causas internacionais, ela deve ser, também, muito mais virada para os problemas sociais internos, que são cada vez mais e maiores;
5. Dar oportunidade à Diáspora de poder, também ela, ajudar a economia nacional com, p. ex., enviar dinheiro para o País sem condicionantes ou, já que estamos em tempos de privatizações, poder candidatar à compra de acções de empresas nacionais, através de bancos externos.
E muito mais se poderia pedir ao Presidente e ao Governo que nos oferecesse no Estado da Nação. Infelizmente a minha utopia é condicionada pelo número de caracteres que posso escrever

Publicado no Novo Jornal, edição 807, d3 13.Out.2023, pág. 7 (para ceder ao pdf do texto impresso, clique aqui ou na imagem)
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